Thursday, November 12, 2015

[PT] De-centralizar o poder para uma democracia mais plena

Os portugueses não querem retórica vazia e partidária de pseudo-Messias políticos que servem o sistema "pay-to-play" evidentes nos governos alternantes dos partidos dominantes das últimas décadas. 
A nação precisa formas concretas e viáveis para reverter o caminho neoliberal sinistro das últimas décadas (poder concentrado nas grandes empresas) sem retornar aos erros comunistas (poder concentrado em no Estado central). Que podemos fazer, como cidadãos, para abrir o caminho para uma democracia vibrante com uma economia justa e sustentável? 
Tal como a Internet é uma rede de-centralizada de informação e as redes energéticas inteligentes, também são de-centralizadas, o poder e dever de decisão e fiscalização das grandes decisões orçamentais e políticas devem ser de-centralizadas -- deixando para associações destas regiões temas de colaboração nacional (e.g. defesa, relações internacionais). 
Aqui apresentamos 10 tipos de acções que você pode tomar para promover o poder e prosperidade local ou comunitário, contribuindo para a justiça sócio-económica e a (sua e nossa) independência da ditadura da Banca do medo, do materialismo, da divisão e da distracção. Cidadãos independentes criam livres associações nas comunidades e a nível dos municípios ou super-conselhos que podem ser o novo centro de gravidade do poder. 
Os Portugueses sabem que os partidos do arco do poder apresentaram-se incapazes de resistir os seus amos - os poderes anti-democráticos e anti-sociais que durante 4 décadas compraram a sua influência facilmente - um fenómeno observado em por todo o mundo. Alterna o partido no poder, mas o poder real por detrás de ambos não muda, e as tendência nocivas avançam até ao precipício. Os órgãos democráticos, distantes do povo, acabam por ser pouco democráticos. 
É evidente que o problema não é só partidário ou político. É um problema sistémico, estrutural relacionado ao poder político que responde fortemente ao poder económico. Se não fosse o caso, não verificamos que as tendências seguem enquanto os partidos alternam sem visão a longo termo, despreparados para as novas realidades -- novos riscos e oportunidades do século XXI. 
Claramente, não podemos esperar que os "líderes" nacionais de sempre lutem contra os seus interesses egoístas. Se não gostamos de sistemas que falharam - o capitalismo corporativo e comunismo estatal - o que podemos fazer? Existe algum caminho em direcção a uma politica mais verdadeira, democrática, igualitária e ecologicamente sustentável? 
Na verdade, há muito que uma pessoa pode fazer individualmente e em conjunto com familiares, colegas e vizinhos. Experiências em todo o mundo já se concentram em acções concretas que apontam na direcção de uma visão mais ampla de mudança sistémica de longo prazo - especialmente o desenvolvimento de instituições económicas alternativas. Escolha pelo menos uma destas 10 vias de acção concreta e poderá ter um grande impacto no resgate do nosso país:
1. Democratize o seu dinheiro!
Ponha o seu dinheiro em uma cooperativa de crédito - em seguida, participe de sua governança. Não encontra uma boa? Ajude a criar uma. Conheça mais a cerca de novas tecnologias como o "block chain" usado pelo bitcoin e a faircoin e novas políticas de criação de dinheiro soberano como o Positive Money (Dinheiro Positivo). 
2. Aproveite o momento: seja um trabalhador-empresário!
Ajude a criar uma cooperativa de trabalhadores ou encorajar as empresas interessadas em fazer a transição para empregados proprietários e adoptar normas e contributos sociais e ambientais como parte de suas missões. Do País Basco até o Cleveland, vemos cada vez mais companhias de gestão e propriedade dos próprios trabalhadores, com provisões pró-comunidade e pró-ambiente. Mais democracia no trabalho, onde passamos tantas horas, pode encorajar mais democracia na governação local e nacional. 
3. Recupere a Democracia Local: Exija orçamentos participativos no Governo Local! É mais difícil gastar dinheiro público nos Boys com auditoria civil. 
Organize sua comunidade para que os gastos do governo local sejam determinados por deliberações de bairro, freguesia, e municipalidades inclusive sobre as principais prioridades - a nível nacional, será ainda mais impactante.
4. Incentive as agências locais a fazem a sua parte!
Motive as instituições sem fins lucrativos, como universidades e hospitais (“instituições ancoras”) a usar seus recursos para combater a pobreza, o desemprego, e o aquecimento global, inclusive comprando seus produtos e serviços através das empresas cooperativas.
5. Recupere o seu bairro com o Desenvolvimento Democrático - Faça campanha pelo poder comunitário através da aquisição e desenvolvimento económico de terrenos na comunidade pelos governos e associações locais.
6. Dinheiro público para o bem público! Organize a comunidade para usar finanças públicas para o desenvolvimento da comunidade.
Para construir um sector financeiro que funcione para o bem público, comece a organizar a nível da junta, da cidade, município para garantir que os fluxos de capital públicos passem por meio da comunidade ou bancos públicos – una-se a um movimento cívico como o Nós, Cidadãos. 
7. Não consinta e permita que as suas poupanças alimentem o poder das mega-empresas e da banca que compram os políticos! Lute por oportunidades de investimento responsável.
8. Defenda a democratização da produção de energia para criar uma economia verde e de-centralizar o poder! Ajude a desenvolver uma rede de produtores públicos de energia e de cooperação para combater as mudanças climáticas - e o poder concentrado e corrupto das grandes empresas de energia. Lute contra a privatização dos bens comuns, especialmente da água, em conjunto com cidadãos de toda a UE, excepto em formas que beneficiam o público e com seu consentimento. 
9. Mobilize as comunidades cívicas e espirituais! Incentive sua organização religiosa, espiritual ou comunitária para mover seu dinheiro para uma instituição financeira local envolvida no desenvolvimento da comunidade. No caso da Igreja Católica, é bom lembrar que o movimento cooperativo foi em grande parte inspirado por sua teologia social. A maior empresa cooperativa do mundo, a Mondragon, foi inspirada por um padre católico para superar as injustiças e precariedade da ditadura de Franco. A religião, a espiritualidade, a ciência e filosofia da consciência podem ajudar a tratar os males-raiz que geram as atitudes, valores e padrões de comportamento que sustentam a crise.
10. Arranje tempo para a Democracia! Participe de movimentos cívicos como o Nós, Cidadãos! E vote contra os partidos do regime dos últimos 40 anos. Vote nos partidos emergentes de valor, como o Nós, Cidadãos!
Conheça as 13 propostas de reformas eleitorais do Nós, Cidadãos para democratizar Portugal, combater a corrupção, e defender um estado social sustentável e soberano. 
[Nelson Abreu - Califórnia com Nós, Cidadãos ]

Friday, November 6, 2015

[PT] Como resgatar a democracia Portuguesa







Não somos formigas: como resgatar a democracia


NOTA: O Programa "À Noite na Cidade" discutiu este ensaio dia 2 de Novembro de 2015


A eugenia surgiu a partir das idéias de Sir Francis Galton no séc. XIX, primo de Darwin, empolgado com o trabalho de seu primo e com a recente re-descoberta das experiências realizadas pelo monge Gregor Mendel. A eugenia brotava como uma nova disciplina que tinha como proposta a melhoria genética da raça humana sob a tutela das "autoridades científicas." Galton acreditava que só os melhores deveriam governar e ter crianças.  Por motivos aparentemente racistas, o primeiro teste de inteligência foi criado por Henry Goddard, um eugenista, que em 1913 aplicou um teste de inteligência a 148 imigrantes judeus, húngaros, italianos e russos.  No fim, Goddard achou que o teste não condizia com a realidade, pois pensava que o número de atraso mental deveria ser maior (pelo menos 40%). 

É curioso, então, que foi o mesmo Galton, produto da sua era, e logo do nosso ponto de vista actual, bastante racista e elitista, que fez uma descoberta científica chave que abalou o seu paradigma. Por curiosidade, foi a uma feira popular camponesa, onde se deparou com um jogo com uma multidão de gente comum e diversa sem "experts" - o pesadelo e alvo de desdém do elitista. O jogo consistia em adivinhar o peso de um boi - ganhava quem estivesse mais próximo do peso correcto. Os resultados geraram certa inquietude, pois parecia que o grupo tinha um certo tipo de inteligência de grupo superior a qualquer dos indivíduos, mas possivelmente, superior a de qualquer especialista, a pesar de serem meros camponeses sem tecnologia ou treino para tal.  Tal foi a curiosidade que pediu os papeis com todas as apostas.   O peso actual era 1188 libras.  Das 787 adivinhas, a resposta mediana foi de 1187 libras, ainda mais preciso que a pessoa com a melhor adivinha.  

Assim começou o estudo de fenómenos de inteligência e organização emergentes, em que formigas meio estúpidas acabam por ter uma organização e inteligência impressionante enquanto colónia de colaboração; onde a Google usa as decisões de usuários individuais para decidir o que e' importante ou relevante de forma orgânica e democrática, de-centralizada.  Não somos formigas, que não são tão parvas como parecem, mas no entanto o governo trata os cidadãos como se fossem.

Depois das revoluções Norte-Americanas e Francesas, os intelectuais não acreditavam que o povo fosse capaz de deliberar e fazer decisões sensatas - provavelmente também temiam uma redução no seu poder e viam uma ameaça aos seus interesses financeiros.  Eleições e partidos dão a impressão de democracia e debate, mas permitem as oligarquia. As liberdades e distrações, assim como as divisões partidárias, permitem as pessoas falarem o que pensam mas renderem-se a um tipo de derrotismo ou alternância, votando não em representantes mas em mestres das elites. 




O problema da pseudo-representação 

É quase impossível, na prática, que representativos políticos representem a população adequadamente, pois não são directamente eleitos em Portugal.  Mesmo que deputados sejam eleitos como nos Estados Unidos, cada cidadão tem uma combinação de valores, prioridades e atitudes em relação a vários temas.  Mesmo que esteja de acordo com um deputado ou um partido em relação a um tema ou decisão, não vai estar sempre de acordo em outras áreas. Logo, o principio de que um representante é verdadeiramente representativo da vontade dos cidadãos que diz representar é falacioso -- mesmo que tenha as melhores das intenções e ética. 

Sabemos, também, pela experiência e lógica, que os cargos políticos tem poder e são de longa duração, o que atrai pessoas carismáticas mas facilmente corruptíveis e os torna alvo dos interesses corruptores.  Ou seja, os menos adequados ao serviço publico são frequentemente eleitos e acabam por servir-se do publico.  Na Grécia Antiga, berço da democracia, reconhecendo este problema, chegaram a ter assembleias abertas (com limites culturais da altura - só participavam cidadãos, homens proprietários), e vários cargos na base de sorteios e termos curtos e limitados, assim como processos de castigo e ostracismo para aqueles que abusavam da posição.

No entanto, sabemos que na nossa versão da democracia, a distância entre o deputado e os cidadãos é elevada, mas a relação com linhas oficiais do partido e os lobbies de interesses capitais e outras influencias são muito fortes.  O cidadão é desincentivado de participar, encorajado a ficar em casa, calado, mas também pode falar ou ate gritar a vontade, pois já não temos PIDE.  No entanto, no dia das eleições, ao ser alternativamente traído pelos partidos, deixa de ter interesse e deixa as reinas nas mãos de políticos que não representam a maioria dos Portugueses, pois a maioria não vota, mas o voto nulo, em branco ou a abstenção não conta contra os partidos.

Para piorar a situação, nem o politico melhor intencionado sabe o que os cidadãos pensam a cerca de um tema, pois, em geral, o cidadão esta demasiadamente ocupado com a sua vida para aprofundar nas questões e não tem tempo, nem meios de influenciar o seu suposto representante.  A demais, não tem incentivo para aprofundar, pois não tem esperança que a sua opinião seja relevante para os resultados (um fenómeno chamado de ignorância racional), por melhor fundamentada que seja.  Também temos a tendência humana de procurar fontes de informação que reforçam um certo ponto de vista, mesmo na Era Digital, e é difícil perceber o grau de superficialidade do conhecimento ou fragilidade de argumentação quando não somos desafiados por boa contra-argumentação.  

Torna-se, também, fácil de aderir a "equipas" e estar contra as outras "cores," quando não conversamos com os vizinhos para conhece-los como pessoas razoáveis que tem as suas bases para acreditar no que acreditam.  Logo, a tendência de qualquer povo é que os cidadãos estejam muitas vezes desinformados acerca das principais questões públicas, especialmente se os jornalistas não forem suficientemente independentes e diligentes para facilitar o processo. 

Piorando a situação, é comum não admitir que simplesmente não sabemos. Quando nos perguntam algo em referendos, obrigam a escolher sim ou não, em questões complexas, sem ter a oportunidade de deliberar os prós e contras, e com a pergunta já formatada a limitar as possibilidades e, possivelmente, de forma tendenciosa para influenciar a resposta.  Estudos efectuados mostram que seres humanos respondem sim ou não ate em questões fictícias e que dão respostas diferentes com pequenas manipulações da pergunta.  Deste modo, o demagogo pode legitimar as suas decisões com o voto publico, que poderá formar a sua decisão baseada no que houve nos mídia convencionais ("sound bites"). 

Se nem todos podem ser especialistas em todos os temas, e se os nossos representantes não tem pressão de um consenso deliberado do povo nem consultam especialistas independentes e desinteressados, facilmente cedem perante a influencia dos lobbies


Uma possível solução

A consulta publica deliberativa é uma tentativa de usar a ciência de opinião pública e a ciência dos sistemas complexos de uma forma inovadora e construtiva. já foi posta à prova em varias partes do mundo, inclusive no Brazil, Macau, e ate foi feito uma experiência a nível Europeu.  No entanto, desconheço tal experiência a nível nacional ou regional em Portugal.  Uma amostra representativa e aleatória da população é convidada a responder perguntas sobre um determinado tema escolhido por um comité ou ate escolhido por eles mesmos. Depois desta sondagem de referencia, os membros da amostra são convidados a se reunirem em um único lugar por um fim de semana para discutir as questões. Cuidadosamente, materiais informativos equilibrados são enviados aos participantes e também são disponibilizados ao público. 

Os participantes dialogam com especialistas representando diversas posições. As perguntas surgem de pequenos grupos de discussão com moderadores.  Os eventos podem transmitidos nos mídia e/ou por Internet ao vivo e/ou em forma gravada e editada. Após as deliberações, a consulta de opinião original é novamente efectuada. As alterações resultantes dos debates são representativas das conclusões que o público atingiria, se as pessoas tivessem oportunidade de se informarem e debaterem as questões entre si e especialistas.  

O debate pode continuar através dos fóruns na Internet e poderá resultar em assembleias, mais consultas publicas deliberativas, ou até em referendo, desta vez com um público melhor informado.  A criação de uma opinião pública mais deliberada também aplica pressão nos políticos nas suas decisões, pois se continuarem a ignorar a vontade bem-informada do povo, mais cedo ou mais tarde, o povo vai exigir mudanças no sistema eleitoral para que haja mais participação directa na democracia - em sim um tema inevitável das consultas publicas deliberativas. 

Com a educação universal, com o maior acesso a informação da historia, métodos científicos de deliberação, cidadãos especializados e experientes nas mais diversas áreas, e com as evidencias de corrupção e ineptitude das supostas elites politicas, o mito que o povo não sabe governar-se já se mostrou falso.  Na era da economia de cooperação tipo (Mondragon, Evergreen Cooperatives, "worker-owned cooperatives","credit unions","public land trusts") e de partilha (AirBnB, Wikipedia, "share econony", "crowd funding," "micro-finance", "open source", "crowd source") e da de-centralização de sistemas (de informação, de energia), e dos votos em shows de TV e da era da Internet, que permite pagar impostos e fazer transacções bancarias por computador e telemóvel, mas também dos hackers, como melhoramos a democracia? Porque não perguntamos aos cidadãos? 

NÓS, CIDADÃOS! 

Neste contexto, surge o movimento cívico e novo partido Nós, Cidadãos. Ao contrário dos partidos tradicionais, que elaboram programas políticos e eleitorais de forma não participada e depois os apresentam de forma a não serem lidos nem, muito menos, compreendidos, o seu programa resultou de uma ampla participação de especialistas, cidadãos comuns, especialistas e grupos cívicos.  O primeiro tema que defende: chegou a hora de reinventar o nosso sistema político e eleitoral. Os cidadãos estão cansados de serem sempre “eles” a decidir, nas nossas costas. Por isso, NÓS, CIDADÃOS! propõe:
1.1 — Maior recurso ao referendo, para a decisão das grandes questões nacionais. Para tal, devem-se equacionar formas de tornar esse instrumento menos oneroso, quer agregando os referendos às diversas eleições, quer permitindo, num mesmo referendo, agregar mais do que uma questão.
1.2 — Possibilidade de iniciativa popular de referendo de âmbito nacional, regional, municipal ou de freguesia, para revogação de leis vigentes, iniciativas governativas ou mandatos políticos.
1.3 — Reformulação da lei da iniciativa legislativa de cidadãos, com a redução do número mínimo de assinaturas necessárias e o alargamento do âmbito de incidência das propostas de lei.
1.4 — Candidaturas de Grupos Independentes de Cidadãos à Assembleia da República, se cumpridos os critérios legais a estabelecer para o efeito, nomeadamente uma representação nacional mínima, que evite fenómenos de caciquismo local.
1.5 — Redefinição dos círculos eleitorais, visando aproximar mais os eleitos dos eleitores, com uma eventual alteração do método de apuramento dos resultados (em alternativa ao atual método de Hondt).
1.6 — Possibilidade de voto do cidadão eleitor no nome da pessoa candidata ou na lista da sua preferência (voto preferencial), em vez de só se poder optar pelo partido, como sucede actualmente.
1.7 — Introdução de um mecanismo legal que vincule inequivocamente cada eleito aos compromissos assumidos: o Contrato Eleitoral. A violação grave deste princípio deve ser considerada como justa causa para o pedido de revogação do mandato desse eleito, por via judicial ou através de Referendo de Iniciativa Cidadã.
1.8 — Plataforma digital atualizada em tempo real que promova a transparência da orçamentação e execução das atividades políticas e da contratação de serviços e assessorias por parte de cada político eleito, em prol de uma maior monitorização da atividade política.
1.9 — Alteração da Lei de Financiamento dos Partidos, com a eliminação dos benefícios fiscais injustificados, redução dos índices de referência para as subvenções estatais, moderação das despesas com campanhas eleitorais e publicitação das origens e dos montantes dos financiamentos, com prestação de contas consolidadas.
1.10 — Rigoroso Estatuto de Incompatibilidades das pessoas titulares de cargos políticos e de direção da Administração Pública ou do Setor Empresarial do Estado, mais rígido, verificável e sem as habituais exceções, que lhe retiram credibilidade.
1.11 — Fim dos privilégios injustificados atribuídos a pessoas (ex-)detentoras de cargos públicos e políticos e a responsabilização civil, criminal ou disciplinar do titular de qualquer cargo político, se for inequivocamente comprovada a sua contemporização com atos de abuso das funções do Estado.
1.12 — Introdução no quadro legal de uma pena política máxima que gradue, para os prevaricadores, a inibição temporária ou vitalícia do exercício de cargos políticos, bem como a ocupação de qualquer função na Administração Pública e entidades relacionadas.
1.13 — Em suma, defendemos maior participação dos cidadãos, em prol da regeneração do nosso sistema democrático.


MAIS INFORMAÇÕES 

Programa Eleitoral: 
http://noscidadaos.pt/forum/index.php?board=2.0

Deliberação em Porto Alegre (materiais em Português e Inglês):
http://cdd.stanford.edu/2009/deliberative-polling-in-porto-alegre-brazil/

Mapa Visual do Processo Deliberativo (Espanhol):
http://cdd.stanford.edu/mm/2015/03/what-is-deliberative-polling-es.pdf

Programa "À Noite na Cidade" discutiu este ensaio dia 2 de Novembro de 2015
https://www.mixcloud.com/noitenacidade/20151102-%C3%A0-noite-na-cidade-programa-04/

[PT] MUDAR É FÁCIL, DIFICIL É QUERER MUDAR... - Paulo Vieira de Castro



MUDAR É FÁCIL, 
DIFICIL É QUERER MUDAR...
- Paulo Vieira de Castro

Não raras são as vezes em que me perguntam por onde começar a mudança. Fazendo uma sempre necessária pausa, respondo: e, por onde haveria de ser? Por si! Porquê estar à espera que os outros o façam?!

Mudar, transformar-se, parece ser um desafio demasiado exigente. Afinal trata-se de alterar o curso de uma vida e isso não é tarefa fácil para a maior parte de nós! O mesmo se passa com as empresas, com as famílias, as escolas, com os relacionamentos...Quando decidimos mudar, fazemo-lo partindo da obrigação de resolver as coisas mais difíceis em primeiro lugar. Habitualmente, é isto que torna impossível tal tarefa, seja na vida particular, nas empresas, em comunidade, etc... Esta é uma opção errada mas, entre os ocidentais, muito comum.

Quando temos vários problemas só deveremos resolver um de cada vez, assim manda o bom senso. Mas, como poderemos hierarquiza-los? Explico aos meus alunos como o fazer pedindo-lhes para imaginarem uma cesta com vários tipos de fruta. Para este exercício, escolho o aluno que afirma detestar fruta de qualquer tipo. Se eu lhe pedir para tomar uma decisão tão simples quanto escolher a peça de fruta que mais gosta, para comer naquele momento, ele responde que não gosta de nenhuma, enredando-se num esquema mental sem fim...  Assim, enfrentamos não um problema, mas vários. Os diversos tipos de fruta representam uma multiplicidade de problemas para este aluno. Contudo, se eu colocar o desafio de uma outra forma, pedindo-lhe para começar por eliminar a fruta que menos gosta, ele já será capaz de chegar a um resultado diferente. Sem que disso tivesse um conhecimento anterior, ele sabe agora qual a fruta de que mais gosta afinal, desbloqueando uma situação que todos julgavam sem solução à vista.

Só eliminando os problemas menores no início, teremos maior consistência na resolução das maiores dificuldades. A isto se chama há mais de 500 anos Kaizen; estratégia para a mudança. Esta palavra é, ainda para muitos, desconhecida. Kai significa mudança, Zen a filosofia que resulta do milenar convívio entre o budismo e o taoismo. No pós-guerra, o Kaizen foi, no Japão, a principal via para a excelência. Nos nossos dias, aplica-se em algumas das empresas mais importantes da economia global. E por que não haveríamos de aplicar isto ao comum dos mortais? Nas empresas, nas famílias, nas escolas,… O Kaizen alertou-nos para algo que está, agora, amplamente provado pela ciência moderna. Os pequenos passos suprimem a resistência do cérebro ante a necessidade de assumir um novo comportamento. Corrigir pequenos erros torna-se, assim, fundamental antes de chegar a resolver aqueles que se nos afiguram como intransponíveis pela sua dimensão. Para que tal seja possível, deveremos promover nos nossos relacionamentos o espírito wa, a harmonia. Esta é uma qualidade que deveremos levar para todos os  ambientes.

Dependemos sempre de pequenos passos

Comecemos por entender como gerir a mudança ao nível mais simples. Tenho para mim que, na atualidade, Shakespeare se tornou num incontornável autor de autoajuda. Ele ensinou-me muitas das coisas óbvias da vida, por exemplo, que nunca deveremos criar expectativas, porque isso dói; que antes de falar, deveremos escutar; que antes de escrever, deveremos pensar; que antes de ferir, deveremos sentir. Antes de odiar, amar; antes de desistir, tentar. Só deste modo, antes de morrer, poderemos afirmar ter vivido. E quantos se esqueceram já disto?! Agora, tente praticar esta nova perspectiva de estratégia relacional. Os resultados serão imediatos, independentemente do ambiente em que se encontra, ou seja, quer faça tal exercício na empresa ou na esfera privada. São, apenas, pequenos passos… Mas qual seria para este autor a nossa maior responsabilidade? Escolher simplesmente entre “ser ou não ser; eis a questão...”. Ao mundo, chamou um imenso cenário de dementes. No destino, viu as mãos que baralham as cartas, remetendo para nós – humanos – a responsabilidade de todas as escolhas; afinal somos só nós que jogamos... Como homem que não conheceu o medo, considerando-o como a mais amaldiçoada das paixões, encontrou, ainda, na dúvida a maior das traidoras ante o medo de arriscar, mudar...

Veja que em nenhum momento fiz depender estas grandes e pequenas mudanças de um orçamento milionário. Não será por questões orçamentais, pelo efeito da crise, pelo exagerado detalhe das minhas propostas que deixará de as implementar. Então, o que é que lhe falta para começar por corrigir os pequenos erros?  Eu respondo, com  pequenas soluções... 

Paulo Vieira de Castro – autor e conferencista  (geral@paulovieiradecastro.pt)

Foi mentor do Modelo de DOSHU (Dharma Marketing ) com vista à introdução de práticas ancestrais e da filosofia oriental no mundo da liderança empresarial ( 2006 ). Foi autor de: “Dharma Marketing – A Espiritualidade no Mundo dos Negócios” (2011), “Gestão Samurai – Servir para Liderar” (2013) e “Viva a Crise – O despertar da  consciência em Tempos de Incerteza” (2014). Foi  co-autor do manual “Marketing em Contexto de Mudança”, editado pela Universidade Lusíada (2012) e da obra “Economia e Espiritualidade - Reformando o Mundo dos Negócios" (2012). Estando há mais de uma década ligado ao ensino graduado e pós graduado enquanto docente nas áreas da Estratégia e da Comunicação, o seu trabalho foi já divulgado em algumas das mais prestigiadas publicações da área dos negócios nacionais e internacionais.

Wednesday, November 4, 2015

[PT] Lições de S. Mateus e Abraham Lincoln para a Europa de hoje - A casa dividida

"Uma casa dividida contra si mesma não consegue permanecer"



O discurso da Casa Dividida foi proferido por Abraham Lincoln em 16 de junho de 1858, em Springfield, Illinois ao aceitar a indicação do Partido Republicano, fundado contra a escravidão, para concorrer ao Senado.

A preleção de Lincoln tornou-se uma duradoura imagem do perigo da desunião provocada pela escravidão e um dos seus mais famosos discursos.

Foi inspirada por Mateus12:25 que reza "Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá." Ao falar que "uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer" o político estava se referindo à divisão da nação Norte-Americana entre estados libertários e escravocratas. Oito anos antes deste discurso, durante o debate no Senado sobre o Compromisso de 1850, Sam Houston já havia proclamado: "Uma nação não pode ficar dividida contra si mesma.”

Lincoln avisa que para a união prevalecer ou haverá escravidão em toda a união ou sera abolida em toda a união. Os acordos feitos até ao dia simplesmente adiavam o inevitável. A União Europeia de 2015 apresenta paralelos aos EUA de 1858: a divisão entre estados soberanos com economias mais avançadas ao Norte e menos produtivas mas muito trabalhadoras do Sul.

O continente e os países também se dividem entre “esquerda” e “direita.” Embora o ser humano enquanto propriedade total seja ilegal em toda a UE, temos hoje novamente um debate sobre a liberdade e o valor da vida de uma classe de humanos. Em 1858, os EUA estava dividido entre aqueles que defendiam a instituição da escravidão por ser integral para a sua economia, justificada pelo racismo e superioridade de uma raca sobre as outras - e aqueles que queriam abolir a escravidão.

Os estados que haviam abolido a escravidão foram forçados a inovar e industrializar, tornando-se economicamente independentes da escravidão (com a excepção do comércio com estados escravocratas, que sentiam que os estados mais industrializados se enriqueciam à sua custa - outro paralelo).

Em 2015, a UE se encontra dividida entre aqueles que defendem a neo-escravocracia do neoliberalismo e aqueles que a opõem. Toda uma classe de pessoas são consideradas superiores: os mega-ricos. São super-ricos por serem inteligentes, prestáveis, generosos e muito trabalhadores - julgam-se. São os criadores de emprego, da inovação e riqueza, dizem. Em contraste, há o mito complementar: que existem os inferiores, preguiçosos, desonestos, sangue-sugas - e para os mais extremos, os de sangue impuro: são os pobres – gente sem talento, inteligência, e esforço. Muitos não valem nada neste sistema dishumano, uns valem um pouco, consoante o seu valor no mercado competitivo que se serve cada vez mais dos seres humano, em vez de os servir.

O ser humano de pele escura era considerado inferior e só tinha valor na medida que seu trabalho servisse as elites. Para a não-elite, servia como classe inferior e financiadores de seus serviços sociais. Hoje, o racismo não foi totalmente ultrapassado, mas a falta de solidariedade não se limita à cor da pele. Há liberdade de ser propriedade de outro, mas não há liberdade da necessidade e do sofrimento para a maioria. A necessidade e sofrimento de uns são considerados mais importantes do que a dos outros. O sofrimento do Alemão nobre, vale mais do que o sofrimento do Alemão pobre e do Grego supostamente preguiçoso – sem falar do refugiado. Se o Espanhol não tem trabalho é porque vale menos e não merece a mesma dignidade, é o que se julga.

A necessidade da Portuguesa, diz este sistema, não interessa tanto porque deve ser uma irresponsável paradisíaca que merece a sua condição inferior, porque é mal-habituada, desonesta e preguiçosa – só serve se trabalhar mais e ganhar menos... Se for mais como escrava e menos como gente. Serve mesmo se só trabalhar sem direitos e se ganhar só o suficiente para ter uma subsistência mínima. Pelo menos davam de comer e abrigo aos escravos - havia que proteger a propriedade, o investimento. Mas se for desobediente e não produzir o suficiente, o frio sistema não vai ter saudades da parasita. Ela é a nova versão da escrava Africana ou do Ameríndio da Era de Lincoln.

Tem liberdade de expressão que tem medo de usar pois pode perder o trabalho ou as poupanças de os bancos não gostarem do que diz um povo, mas não pertence 100% a ninguém como naquela era. Mas se não consegue ser prestável a uma elite global neoliberal como uma boa escrava quanto mais horas da sua vigília seja possível, não terá uma vida digna. Não por falta de recursos na Europa, mas sim porque a Europa ainda não aceitou que um Português ultra-rico vale tanto como um Polaco sem conta bancaria. Que uma mãe Belga vale tanto como uma mãe Italiana. E que só há força, paz e prosperidade sustentável na união.

A passagem mais conhecida do discurso de Lincoln é: "Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer. Acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a divisão da União - Eu não espero ver a casa cair - mas espero que ela deixe de ser dividida. 

Ela terá que se tornar toda uma coisa ou outra. Ou os adversários da escravidão irão deter a propagação da mesma, e a opinião pública deve repousar na crença de que deva ser extinta definitivamente, ou seus defensores irão estendê-la adiante, até que ela se torne legal em todos os Estados, velhos ou novos - Norte como no Sul."

E nós? Vamos ter uma união de estados soberanos em que todos tem os mesmo grau de liberdade, de acesso a oportunidade, o mesmo valor como seres humanos? Não vamos ter os mesmos resultados, a mesma prosperidade, a mesma cultura, mas enquanto não concordarmos nos mesmos direitos e deveres do ser humano, as sementes da desunião e do conflito germinam.

Nos EUA existiam 3 cenários: um continente unido escravocrata, um continente unido abolicionista, ou a desintegração em dois eixos em conflito. Todos sabemos o que ocorreu.

Uma Europa que respeita e garante a liberdade e dignidade de todos os cidadãos e a soberania de auto-determinação de todos os estados e regiões autónomas é a única Europa de paz, segurança e prosperidade duradoura. 

Hoje temos mais confisco e menos direitos e oportunidades: e neste clima injusto, menos confiança, mais xenofobia e nacionalismo, menos solidariedade. O que todos os Europeus querem e foram prometidos é igualdade de oportunidade e maior aproximação perante as grandes decisões, verdadeira cooperação e sinergia na esfera económica que investe no desenvolvimento de cada um, e liberdade e diversidade plena na esfera cultural, embora unidos por valores humanos universais. Em vez de culparmos os demais, temos que re-encontrar e agir em concerto de acordo com os melhores valores que conhecemos. 

Toda a vida tem o mesmo valor e sua liberdade de expressão, de consciência, mas também das necessidades vitais, libertará todos os Europeus para desenvolverem-se e, no processo, servirem o bem comum com seus talentos. Ninguém nos vai entregar a justiça: temos que defendê-la com resistência pacífica mas pro-activa e firme. 

Não há paz sustentável para todos enquanto prevalecer injustiça para alguns. Não há desenvolvimento sustentável para o continente, enquanto tolerarmos o sofrimento de milhões e o desperdício do maior recurso: o potencial humano. Não há união, enquanto uns valem mais que outros. Um continente dividido esquerda e direita, norte e sul, do estado e do privado, empresário e trabalhador... um país, um continente dividido contra si mesmo, não subsistira.

Hoje, mais do que nunca, a união em torno do valor do ser humano e do seu potencial pode fazer da Europa a região mais livre, solidária, igualitária, ética, verde, unida e desenvolvida do mundo.

A divisão, poderá torná-la – novamente – num reino de opressão e violência. A escolha é nossa: Força pela união ou cada vez maior subjugação. Colaboração ou competição. Deixar um futuro melhor para os netos ou traí-los. Ou largamos a ilusão das cores partidárias e ultra-nacionalistas, defendendo valores universais, mantendo as culturas e valores individuais e colectivos sem roubar a dignidade “do outro,” ou agravamos as condições impostas pelo dogma mercantilista neo-liberal, marchando em direção da cor que já cobriu a Europa duas vezes nos últimos 100 anos: a cor do sangue, que é igual nas veias do Português e da Finlandesa – e já agora, de todos os seres humanos.


- Nélson Abreu, Los Angeles

[PT] Vitalismo: além do capitalismo e do comunismo



O século XXI pertencerá a quem articular claramente os seus valores e se esforce para ser coerente com eles. Sua virtude ajudará a desenvolver, atrair e reter os indivíduos e as comunidades éticas e criativas em um mundo com cada vez mais automação tecnológica e desigualdade e menos empregos.

Devemos ir além das ideias cansadas dos socialistas e neoliberais, desde "riqueza para os ricos levanta todos," a "criação de emprego" e até a "redistribuição" da riqueza de alguns ultra-ricos.

Naturalmente, ambos os partidos do costume, que vão alternando no poder têm algumas boas ideias, mas provaram ser incompetentes. A sociedade civil é voltada para o futuro, diversa e competente e que está a lutar para um envolvimento mais directo na governação e para reduzir dependência nos representantes que nos desiludem.

Não queremos tomar a riqueza do empresário e redistribuir para as massas. Não queremos uma sociedade do capitalismo selvagem de escravos em nações em subdesenvolvidas e trabalhadores atados a servidão horária ou ao desemprego, entregues ao paradigma materialista. Não queremos uma distopia comunista onde o estado é uma corporação gigante, corrupta com plutocratas ultra-ricos e massas de pessoas impotentes que estão apenas sobrevivendo com a sua chama individua extinta. Então, a final, o que queremos?

O povo Português tem uma orgulhosa história de inovação, descoberta, empreendedorismo, coragem, cultura e consciência social. Nós abraçamos a nossa humanidade comum, os nossos laços internacionais e europeus, mas temos de recuperar a nossa civilização, a nossa soberania e mais uma vez seremos líderes. Os novos oceanos a serem enfrentados são os da mente e do espírito humano, donde surge toda a inovação, a cultura, a engenharia, a ciência, a ética, a coragem, e a perseverança.

Vamos mostrar ao mundo que Portugal não é um país pequeno, com pequenas mentes. Portugal tem recursos naturais - como a sua zona exclusiva económica, culturais, históricos - como os laços ultramarinos - e espirituais imensos e com os seus mais altos princípios, pode mostrar ao mundo que a civilização baseada no conhecimento e na ética é uma próspera força iluminada, democrática, pacífica e corajosa para o bem maior, protegendo ao mesmo tempo liberdade individual e cultivando a realização do potencial: o potencial de indivíduos, comunidades, lugares e ideias.

Visualize esta condição: Indivíduos e grupos são recompensados pela colaboração e criação de riqueza através de trabalhadores que também são proprietários de suas empresas cooperativas; com investimento, poupanças e instrumentos de seguro soberanos e positivos. A nova riqueza é multiplicada com investimentos em pequenas e médias empresas novas. Os trabalhadores são co-proprietários em muitas dessas empresas, e podem chegar a acumular o suficiente para perseguir seus próprios interesses e paixões - suas actividades podem enriquecer a cultura, o bem-estar colectivo e a economia.

Quando alguns de nossos compatriotas estão passando por problemas de saúde ou outras dificuldades, seu bem-estar é garantido pelo acesso as mais básicas necessidades: rendimento mínimo, abrigo, serviços públicos e educação.

O mesmo benefício está disponível como uma rede de segurança para o cidadão que quer tomar um risco empresarial inteligente ou que é deslocado por mudanças na sua indústria. O que chamamos, pejorativamente, de desemprego, é de fato a liberdade da escravidão e da exploração que a maioria das pessoas tem procurado.

Poucos entre nós iriam se contentar com um nível de subsistência de quase-pobreza. A liberdade da luta pela mera sobrevivência liberta-nos a contribuir para a sociedade, oferecer-se para causas positivas, para seguir nossas paixões criativas e para nos desenvolvermos como seres humanos. Esta facilitação colectiva de criação de riqueza pode substituir a pobreza permanente patrocinada pelo estado para a manipulação de votos populista ou o auto-enriquecimento de políticos profissionais e os seus interesses especiais em detrimento da maioria.

O que impede a nação de cumprir o seu destino natural de uma sociedade esclarecida: a apatia ou o desânimo em face da oligarquia. Se formos cínicos e acreditarmos que nada pode ser feito, o nosso futuro e o futuro de nossos descendentes será uma profecia auto-realizada. Se formos coerentes e educarmos as próximas gerações e se defendemos desde já o seu futuro, juntos, a democracia se vai tornar mais saudável.

Nós permitimos que uns poucos bêbedos com poder se coloquem à frente de milhões de cidadãos portugueses. Os portugueses são perfeitamente capazes de se governar sem políticos profissionais, que muitas vezes representam os interesses da elite. Tudo que a cidadania precisa são versões modernas de instrumentos democráticos da Grécia Antiga, origem da democracia, a fim de tomar decisões bem-informadas:

1) a liberdade de imprensa e da liberdade de expressão
2) deliberação e consulta de especialistas em áreas pertinentes que representam uma gama de pontos de vista pública
3) a democracia mais directa é amplificada através de métodos como o sorteio, as assembleias locais, as aprovações orçamentárias cívicas, e facilitação de iniciativas dos cidadãos, e / ou sondagem deliberativa
4) prazos curtos e limitação mais forte no número de termos (sem classe política profissional, permanente). O numero e duração de mandatos de cargos políticos devem ser altamente limitados
5) a responsabilização por negligência ou corrupção (desonra pública, prisão, multas ou tempo de serviço comunitário obrigatório)
6) maior controle local dos orçamentos e menos burocracias nacionais (mais autonomia e experimentação de acordo com princípios e leis comuns)


Numa era em que os custos de producao sao cada vez menores com a automacao, existe cada vez menos trabalho tradicional. Em vez de criar precariedade e abandono, podemos usar a tecnologia para liberar cada vez mais pessoas para que possam criar, colaborar, contribuir para a colectividade... A criatividade, a cultura, o calor humano, não podem ser substituídos por maquinas. 


Portugal deve ser conhecido em todo o mundo, como uma nação de grande espírito que aproveita colectivamente os talentos individuais, que preserva e oferece uma cultural milenar com toque pessoal, e que investe em suas ideias para a filosofia, a ciência, a tecnologia e as artes, acabando por desenvolver, atrair e reter as melhores mentes e consciências do país e de todo o mundo. 

Podemos escolher ser a nova Sagres, a nova Atenas, em parceira com a lusofonia e o mediterrâneo... Ou cada vez mais, uma colónia de trabalho precário, exportador de talento, importador de povos ainda mais infelizes, de abandono de idosos e colónia de turismo de outros povos.

eng. Nélson Abreu
Cidadão Português nascido em Lisboa, residente em Los Angeles
Apoiante do movimento cívico "Nós Cidadãos"

http://www.noscidadãos.pt